As lições do Pregador

  • 23/10/2025
As lições do Pregador
As lições do Pregador (Foto: Reprodução)

A sabedoria milenar, expressa em textos como o livro de Eclesiastes e a epístola de Efésios, oferece um panorama profundo sobre a existência humana, entrelaçando conceitos de tempo e propósito. A máxima de Eclesiastes 3:1, que afirma "Para tudo há uma ocasião certa, e há um tempo para todo propósito debaixo do céu", ressoa em harmonia com a exortação de Efésios 5:15-16: "Tenham cuidado com a maneira como vocês vivem; que não seja como insensatos, mas como sábios, aproveitando ao máximo cada oportunidade, porque os dias são maus."

A aparente simplicidade de ambas as passagens esconde uma complexidade filosófica e teológica que, quando analisadas em conjunto, revelam uma verdade fundamental: a vida não é apenas uma sucessão de eventos aleatórios, mas uma jornada que demanda discernimento e ação intencional.

Eclesiastes nos apresenta a realidade de um tempo cíclico e predeterminado, onde cada evento — nascer e morrer, chorar e rir, amar e odiar — tem seu lugar e sua estação. Esta visão, embora possa parecer fatalista à primeira vista, na verdade, serve como um lembrete da nossa finitude e da ordem intrínseca do universo.

O autor, conhecido como o Pregador, não sugere passividade, mas sim uma aceitação da temporalidade como um fato da vida. A sabedoria, nesse contexto, reside em reconhecer o tempo para cada coisa e agir em conformidade. A ausência de controle sobre os ciclos da vida nos convida à humildade e a uma reflexão sobre como nos posicionamos diante das circunstâncias que nos são apresentadas.

No entanto, o chamado de Efésios 5 amplia essa perspectiva. Paulo, ao admoestar os crentes a "terem cuidado com a maneira como vocês vivem," transforma a mera aceitação do tempo em uma responsabilidade ativa. Ele nos tira de uma visão passiva do tempo e nos coloca como agentes que devem discernir e "aproveitar ao máximo cada oportunidade."

A expressão "aproveitando ao máximo" (do grego, exagorazō), que significa literalmente "resgatar" ou "comprar de volta," sugere uma urgência em redimir o tempo que, de outra forma, seria perdido. Essa urgência é intensificada pela constatação de que "os dias são maus," um reconhecimento da fragilidade moral e das pressões de um mundo que pode nos desviar do nosso propósito.

A sinergia entre Eclesiastes e Efésios reside precisamente na transição da contemplação à ação. Eclesiastes estabelece o palco, nos ensinando que a vida é um fluxo de estações. Efésios, por sua vez, nos dá o roteiro, instruindo-nos a viver com sabedoria e propósito dentro dessas estações. Não se trata apenas de saber que há um tempo para tudo, mas de saber o que fazer nesse tempo. É o discernimento que nos permite navegar pelas complexidades da vida, transformando um simples "tempo de chorar" em um momento de introspecção ou um "tempo de rir" em uma oportunidade de comunhão e gratidão.

Em suma, a conjunção desses dois ensinamentos bíblicos oferece uma lição inestimável sobre a existência humana. Eclesiastes nos ensina a respeitar a cadência da vida, enquanto Efésios nos impulsiona a viver com deliberação e sabedoria. Viver de forma plena, portanto, não é meramente esperar que as coisas aconteçam, mas, sim, entender a natureza do tempo e, com discernimento, fazer escolhas que honrem o propósito maior de nossa jornada. A verdadeira sabedoria não está em ter controle sobre o tempo, mas em saber como viver de forma significativa dentro dele.

O livro de Eclesiastes, escrito por um autor que se identifica como o "Pregador" ou "Coélet", é uma das obras mais intrigantes e filosóficas da Bíblia. Ele nos convida a uma jornada de reflexão profunda sobre a vida, o propósito humano e a busca pela sabedoria e felicidade. O Pregador examina as diversas facetas da existência, muitas vezes chegando a conclusões que podem parecer pessimistas à primeira vista, mas que, na verdade, nos conduzem a uma sabedoria prática e realista.

Aqui estão algumas das lições que o livro de Eclesiastes nos ensina:

1. A Vaidade de Muitas Buscas Humanas

A palavra-chave do livro é "vaidade" (do hebraico, hevel), que significa algo passageiro, fútil ou sem sentido. O Pregador testa várias áreas da vida em busca de significado duradouro, como a riqueza, o prazer, o trabalho árduo e o conhecimento. Ele conclui que, por si só, todas essas coisas são "vaidade e correr atrás do vento". A lição é que a felicidade e o propósito não podem ser encontrados unicamente nos bens materiais ou nas realizações humanas, pois tudo isso é efêmero.

2. O Tempo e a Aceitação da Realidade

Eclesiastes 3, um dos capítulos mais famosos, ensina que "para tudo há uma ocasião certa, e há um tempo para todo propósito debaixo do céu". Essa lição nos mostra que a vida é feita de ciclos, e que cada momento — seja de alegria ou de tristeza, de ganho ou de perda — tem o seu lugar. O Pregador nos encoraja a aceitar essa realidade e a viver em harmonia com ela, em vez de lutar contra o fluxo natural das coisas.

3. A Importância de Viver no Presente

Embora o livro enfatize a natureza passageira da vida, ele também nos adverte a desfrutar os pequenos prazeres do dia a dia. Repetidamente, o autor sugere que o melhor que o homem pode fazer é "comer e beber e encontrar satisfação em seu trabalho" (Eclesiastes 2:24). Isso não é um apelo ao hedonismo, mas um reconhecimento de que a alegria e a gratidão devem ser encontradas nas coisas simples e cotidianas, pois elas são dádivas de Deus.

4. O Temor a Deus como Base da Sabedoria

Depois de explorar todas as facetas da vida, o Pregador chega à sua principal conclusão: "Teme a Deus e guarda os seus mandamentos, pois isso é o dever de todo homem" (Eclesiastes 12:13). Ele percebe que a única forma de dar sentido a uma vida que parece ser "vaidade" é reconhecer a nossa dependência de Deus. O verdadeiro propósito e a verdadeira sabedoria não vêm da busca egoísta por prazer ou riqueza, mas de uma relação de respeito e obediência com o Criador. 

5. A Reflexão sobre a Morte e a Finita Existência

Eclesiastes nos lembra repetidamente da inevitabilidade da morte, afirmando que "o destino dos homens e o dos animais é o mesmo" (Eclesiastes 3:19). Essa reflexão não tem como objetivo nos deprimir, mas sim nos motivar a viver com urgência e propósito, sabendo que o nosso tempo é limitado. A consciência da mortalidade nos encoraja a valorizar cada dia e a fazer escolhas que têm um significado mais profundo.

Em resumo, Eclesiastes nos ensina que a vida sem Deus pode parecer vazia e sem sentido, mas que, quando a vivemos sob o temor e a orientação Dele, ela se torna cheia de propósito, mesmo em meio às suas incertezas e desafios. A verdadeira sabedoria está em aceitar a nossa finitude e encontrar a alegria nas dádivas de Deus, vivendo de forma justa e contente.

 

Daniel Santos Ramos (@profdanielramos) é professor (Português/Inglês - SEE-MG, EJA/EM/EFII), colunista do Guia-me e professor de Teologia em diversos seminários. Possui Licenciatura em Letras (2024), Bacharelado/Mestrado em Teologia (2013/2015) e pós-graduação em Docência. Autor de 2 livros de Teologia, tem mais de 20 anos de experiência ministerial e é membro da Assembleia de Deus em BH.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: Por que devo ler/estudar a Bíblia?

FONTE: http://guiame.com.br/colunistas/daniel-ramos/licoes-do-pregador.html


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